quarta-feira, 9 de junho de 2010

Memórias: Saga Rose (um adeus anunciado)

Texto: André Moura (ACC)


Preferíamos escrever este artigo por outras razões que não esta triste, mas inevitável, notícia em relação a um dos mais belos e emblemáticos navios de passageiros dos últimos tempos. De facto, se estivéssemos a antever a sua visita ao nosso porto seria bem mais agradável do que constatar que a sua carreira está a terminar, uma vez que já se encontra na cidade chinesa de Jiangyin, conhecida por possuir uma grande indústria sucateira.


É com imensa tristeza que constatamos esta dura realidade, onde, nem mesmo os mais belos navios resistem às directivas do SOLAS 2010 ou aos novos propósitos comerciais de determinadas companhias. A sua longa paragem, à espera de um comprador que nunca surgiu, só deixava margem para este lamentável cenário.

Em conjunto com o Saga Ruby, o Saga Rose é ainda considerado como um dos melhores exemplos de navios de cruzeiro que foram construídos até hoje, seguindo a linha clássica dos belos e elegantes transatlânticos das décadas de 50 e 60.

Se tivermos em conta que nos nossos dias deparamo-nos com alguns navios de cruzeiro com formas mais ao estilo “caixote” ou hotel flutuante, contemplar o Saga Rose é recordar uma época, já distante, que deixou muitas saudades, uma vez que os navios de então apresentavam uma elegância e glamour difíceis de igualar actualmente.


Categoria: ****
Companhia/Operadora: Saga Group Ltd/Saga Cruises
Construtor: Société Nouvelle des Forges et Chantiers de La Mediterranee
Ano de Construção: 1965
Designações anteriores: Sagafjord; Gripsholm
Tonegagem: 24,528 t
Comprimento: 188,9m
Boca: 24,5m
Calado: 8,3m
Potência: 2x Diesel 9 cilindros Sulzer 20,150 kW 2H
Velocidade de serviço: 18 nós
Capacidade máxima de passageiros: 574
Elementos de Tripulação: 350
Oficiais: Britânicos
Vida a bordo: Premium
Bandeira: Nassau


Construído em 1965, nos estaleiros da Société Nouvelle des Forges et Chantiers de La Mediterranee, em La Seyne, França, o Saga Rose começou a sua carreira como o SAGAFJORD (foto acima), navio que pertencia à companhia Norwegian America Line (Den Norske Amerikalinje A/S), doravante NAL, para realizar a carreira entre Oslo e Nova Iorque. Nesta primeira fase, o Sagafjord tinha sido destinado a transporte de passageiros, mas a NAL tinha em mente, no futuro, realizar algumas viagens de lazer.
Em 1983, o Sagafjord foi vendido à Cunard Line Ltd (foto abaixo) e, curiosamente, manteve o mesmo nome, uma vez que continuava a fazer serviço para a NAL.
 


Em 1996, foi alugado à Transocean Tours durante 6 meses, companhia esta, que decidiu mudar o nome do navio para Gripsholm (foto acima). O então Gripsholm, numa das suas viagens, sofreu um incêndio a bordo e encalhou, tendo, necessariamente, que ser reparado. No ano seguinte, foi adquirido pelo seu actual proprietário, a Saga Group Ltd, que o sujeitou a profundas remodelações, inclusive de nome, pois passou a designar-se SAGA ROSE.


Em 2006, esteve novamente em estaleiro com vista a uma última vistoria e restyling. Dois anos mais tarde, a Saga anunciou que 2009 seria o último ano que o Saga Rose efectuaria serviço naquela companhia.


Também nos navios, a idade não perdoa, os seus 45 anos foram determinantes para esta decisão, esperava-se era que este clássico transatlântico não fosse para a sucata, muitos falaram em hotel flutuante, outros em navio-museu, mas o que ninguém queria acaba por ser o mais do que provável.


Nas suas várias designações, este navio fez imensos cruzeiros um pouco por todo o lado, aliás, destacou-se nas célebres viagens de volta ao mundo, cruzeiros que atraíam muitos daqueles capazes de despender uma avultada quantia para viajar em grande estilo. E mais, no Saga Rose como nos restantes barcos da companhia, só podem viajar passageiros com 50 ou mais anos, não sendo tanto uma situação de descriminação mas mais numa política direccionada para um sector específico do mercado.


O Saga Rose é como um Rolls-Royce ou um Bentley, nem com a idade fica fora de moda. Com um interior luxuoso, elevados padrões de qualidade no serviço abordo, uma linha clássica e a tradicional chaminé a meio do navio, é lamentável que o seu destino final seja a sucata chinesa. Merecia melhor, muito melhor!
 
O Saga Rose visitado em Novembro de 2009 pelos seus construtores. Fonte: Youtube

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